A Polícia Civil de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, investiga oito policiais militares suspeitos de matar quatro jovens e simular uma troca de tiros para justificar a ação, em 2022. O nome de nenhum dos militares foi divulgado.
O g1 entrou em contato por e-mail com a Polícia Militar e com a Secretaria Estadual de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) para pedir um posicionamento, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
O g1 não localizou a defesa dos oito policiais. A Polícia Civil não confirmou se algum deles foi preso.
Segundo o delegado Adelson Candeo, que investiga a operação, a versão dos oito militares envolvidos é de que o carro das vítimas furou um bloqueio policial em alta velocidade na GO-210. Por conta disso, a equipe começou uma perseguição, foi atingida por disparos e precisou reagir.
Os policiais também dizem que socorreram os suspeitos alvejados, os levando para um hospital próximo. Mas as investigações indicam que o tiroteio nunca aconteceu e que as vítimas chegaram nitidamente mortas à unidade de saúde. Um médico foi coagido a atestar que os jovens chegaram vivos.
“Segundo ele, as quatro vítimas chegaram nitidamente mortas, era evidente que elas já tinham morrido há algum tempo. E que ele foi coagido pelo por esses militares a dar esse relatório médico dizendo que elas estavam vivas”, afirmou o delegado.
A defesa do médico disse à TV Anhanguera que ele passou pelo comitê ético do Conselho Regional de Medicina (Cremego), que entendeu que o profissional foi coagido a emitir o laudo falso. O processo foi arquivado sem nenhuma penalidade ao profissional.
Outra contradição, segundo a investigação, está relacionada a um vídeo que mostra o carro das vítimas perto de Rio Verde cerca de 1 hora após ter sido parado pelos policiais. O veículo faz o trajeto de volta pra rodovia. O delegado acredita que nesse momento o carro estava sendo dirigido por um dos militares.
“Se eles já tinham sido abordados e se os militares realmente estavam conduzindo esse veículo, esses quatro envolvidos estavam em poder da viatura”, afirma o investigador.
À polícia, familiares das quatro vítimas disseram que acreditam que eles tenham sido torturados. A Polícia Civil faria uma reconstituição do caso, mas os PMs investigados se negaram a participar. O perito da Polícia Científica Paulo Lima garante que isso não vai atrapalhar as investigações.
“Quando a gente cruza os dados de tudo, rastreamento de veículos com localização, com questão de laudo cadavérico, exame pericial realizado nos veículos, depoimentos, enfim, é possível construir uma dinâmica dos fatos confiável e que mostra que, na verdade, a versão inicial apresentada não é compatível com os elementos até aqui apurados”, afirma o perito.
Caso seja comprovado que os PMs simularam o confronto para justificar as mortes, eles deverão ser indiciados pelo crime de homicídio.
FONTE; G1 GOIÁS